Comprar um perfume, principalmente se ele for francês,
me causa um certo sentimento de culpa.
Primeiro pelo preço alto pago por um prazer volátil e momentâneo. Depois pelo
tamanho do frasco contido em embalagens pomposas que só não chegam a ser enganosas por que lá está escrito, para evitar discussões, a
quantidade do “precioso líquido” medida em onças (oz.).
Mas é a embalagem o que mais me incomoda. Para disfarçar
o tamanho minúsculo do vidro com as suas onças, o perfume é embalado em uma
caixa interna menor, em geral feita de um papel grosso branco, deixando um
espaço vazio para erguer a caixa maior, mais atraente, com a marca famosa, o nome do
perfume e algumas informações.
Se você comprar um perfume desses para dar de presente
e impressionar alguém, tudo bem, a embalagem está valendo. Mas se for para uso
próprio, a embalagem luxuosa torna-se inútil pois ao chegar em casa será descartada junto com a
sacola da loja, acrescentando mais um item para as grandes ilhas de lixo que
entopem as cidades e navegam sem rumo pelos mares.
Da próxima vez que comprar uma roupa dê-se ao trabalho
de contar quantas etiquetas você tem que cortar para que não incomodem quando for usar. Algumas vem também em pequenos
cabides que imediatamente vão parar na lixeira.
Outro dia fui a uma dessas lojas de luxo, franqueada
do Rio de Janeiro, onde você se sente até intimidada pelo excesso de atenção
das vendedoras. Uma delas me perguntou se queria beber alguma coisa. Pedi um
copo d’ água ( estavam servindo champanhe também). A moça trouxe a minha água
em uma taça tão grande que acredito que só quem voltasse do deserto seria capaz
de esvaziá-la. Tomei alguns goles e deixei-a na bandeja. O resto daquela água deve ter ido pelo ralo
assim que eu me retirei. Daquele dia em diante passei a pedir, quando me
oferecem, somente “dois dedinhos”de água.
Aliás, o exagero desse tipo de loja se estende ao
tamanho das suas sacolas. Loja chique, igual sacolas enormes, não importa o
tamanho ou a quantidade dos produtos adquiridos. Será uma jogada de marketing
que transforma o comprador em um outdoor ambulante exibindo uma marca? Talvez
os marqueteiros, nesse caso, continuem
pensando assim sem se tocar que o efeito pode ser o contrário, porque revela um
desperdício inconseqüente, em confronto
com a situação precária do nosso planeta no que se refere ao meio ambiente, que
pede atitudes mais contidas e corretas para o bem comum da humanidade. Mas
quantas pessoas têm essa consciência?
Outro dia fui a uma lanchonete especializada em
massas, onde o freguês pode escolher
mais de uma dezena de ingredientes e molhos por um preço único. Na minha
frente uma moça fez um pedido tão estranho que registrei como um exemplo do
excesso dos tempos modernos. Ela pediu espaguetti com camarões, bacon,
salmão,atum, alcaparras, queijo coalho,
queijo parrmezon, presunto e azeitonas
pretas. O gosto que se danasse. O certo
era aproveitar , tirar vantagem.
Almoçava com a
minha amiga Beth Azize, quando o seu celular tocou. Ao atendê-lo, o modelo
antigo chamou a atenção de quem estava à mesa. Era um dos primeiros lançamentos
da Nokia. Alguém tentou fazer piada com
o fato, exibindo um aparelho que
calcula, fotografa, grava, encontra
endereços, passa e-mails, transmite programa de televisão e ainda entra no
facebook.
Bebete não se abalou: “maninho, o teu tem lanterna? Pois o meu tem, funciona muito
bem até hoje e supre minhas necessidades de comunicação”.
Pontinhos pra você Bebete!
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