Difícil
alguém ficar muito tempo sem passar pela avenida Getúlio Vargas; ninguém
escapa. Uma das vias mais importantes e movimentadas da cidade, a Getúlio é uma
das mais largas avenidas e talvez uma das menores em extensão. Um trânsito
intenso toma conta dela do amanhecer ao
anoitecer no pequeno trecho de apenas dez quarteirões, que nascem na rua Tarumã e
terminam na avenida 7 de Setembro. Um largo passeio separa as duas pistas. Nele
estão de pé aproximadamente 200 árvores, o que dá uma média de 20 árvores
por quarteirão, fazendo dela, talvez, a
rua de maior concentração de verde por metro quadrado. É certo que as árvores
estão, em sua maioria, baqueadas pelo tempo e a poluição, sem que se note qualquer
cuidado com a sua saúde; pelo contrário, elas são agredidas constantemente por
podas radicais e, no Natal, pelas luzes que não as deixam sossegar. Mas estão
ali, firmes, resistindo pela força da própria natureza. Ah se fossem cuidadas,
como não seriam mais belas e generosas!
Na década
de 1950/60, a Getúlio Vargas tornou-se um lugar sofisticado para morar, por sua
proximidade do centro da cidade. Por essa época foram construídos bangalôs e
mansões de estilo moderno, onde residiam pessoas de posses e de alta projeção
social. Mais tarde vieram os condomínios de edifícios para a classe média alta.
A partir da
década de 1970 o trânsito de veículos aumentou, o centro da cidade começou a
dar sinais de violência e avenida começou a morrer do ponto de vista dos
negócios imobiliários. Os donos dos
casarões mudaram-se e os puseram à venda, sem sucesso, por anos a fio,
abandonando-os mais tarde.
A realidade
da avenida atualmente é de completo abandono e ruína. Do lado direito de quem
desce em direção ao centro, o quarteirão que faz esquina com a rua Leonardo Malcher
exibe há décadas os restos de um casarão
prestes a desabar, tomado pelo mato e trepadeiras que se estendem ao prédio a
seu lado, também vazio. Na próxima esquina, com a rua Monsenhor Coutinho, um
enorme terreno está vazio há anos, aberto, profundo, sem muro e sem segurança
para os pedestres. O trecho entre as ruas Saldanha Marinho e Henrique Martins parece um
pouco mais conservado, embora tenham sido cometidas algumas barbaridades como a
desfiguração da casa onde residiu a professora Eldah Bitton Telles da Rocha,
cantora lírica, uma das mulheres mais charmosas da cidade, cuja memória poderia
estar conservada na casa onde morou, que deveria ter
sido poupada do urbanismo selvagem, até como exemplo da arquitetura da Manaus
dos anos 1930.
Mais
adiante, no décimo quarteirão, que termina na avenida 7 de Setembro, o Colégio
Estadual Pedro II, cuja quadra mal se pode enxergar devido à presença de oito
bancas de revistas, quinquilharias, comidas, cópias de documentos e outras que
impedem a contemplação do prédio.
Subindo a
avenida a partir da 7 de Setembro
passa-se ileso pelo antigo cinema Polytheama, com suas pequenas sereias presas
à parede, milagrosamente inteiras. No próximo quarteirão, entre as ruas Lauro
Cavalcante e Huascar de Figueiredo, 18
bancas de camelôs estreitam a passagem dos pedestres, tendo como fundo um muro
cheio de pichações. Mais acima, a calçada entre as ruas Huascar e as 24 de Maio bate o recorde de
ocupação irregular do espaço público: ali se instalaram 21 bancas de vários
tamanhos, estilos e finalidades.
A avenida Getúlio
Vargas é um exemplo do descaso pelo
patrimônio de uma cidade. Depois desse
triste passeio restam duas perguntas: não existe fiscalização por parte da
Prefeitura? e por que não conservar os
tesouros e as belezas que a cidade já possui?
Leyla Leong
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