quarta-feira, 13 de junho de 2012

Avenida Getúlio Vargas Um triste exemplo



Difícil alguém ficar muito tempo sem passar pela avenida Getúlio Vargas; ninguém escapa. Uma das vias mais importantes e movimentadas da cidade, a Getúlio é uma das mais largas avenidas e talvez uma das menores em extensão. Um trânsito intenso toma conta dela  do amanhecer ao anoitecer no pequeno trecho de apenas  dez quarteirões, que nascem na rua Tarumã e terminam na avenida 7 de Setembro. Um largo passeio separa as duas pistas. Nele estão de pé  aproximadamente  200 árvores, o que dá uma média de 20 árvores por quarteirão, fazendo dela, talvez,  a rua de maior concentração de verde por metro quadrado. É certo que as árvores estão, em sua maioria, baqueadas pelo tempo e a poluição, sem que se note qualquer cuidado com a sua saúde; pelo contrário, elas são agredidas constantemente por podas radicais e, no Natal, pelas luzes que não as deixam sossegar. Mas estão ali, firmes, resistindo pela força da própria natureza. Ah se fossem cuidadas, como não seriam mais belas e generosas!
Na década de 1950/60, a Getúlio Vargas tornou-se um lugar sofisticado para morar, por sua proximidade do centro da cidade. Por essa época foram construídos bangalôs e mansões de estilo moderno, onde residiam pessoas de posses e de alta projeção social. Mais tarde vieram os condomínios de edifícios para a classe média alta.
A partir da década de 1970 o trânsito de veículos aumentou, o centro da cidade começou a dar sinais de violência e avenida começou a morrer do ponto de vista dos negócios imobiliários.  Os donos dos casarões mudaram-se e os puseram à venda, sem sucesso, por anos a fio, abandonando-os mais tarde.
A realidade da avenida atualmente é de completo abandono e ruína. Do lado direito de quem desce em direção ao centro, o quarteirão que faz esquina com a rua Leonardo Malcher exibe há décadas os restos  de um casarão prestes a desabar, tomado pelo mato e trepadeiras que se estendem ao prédio a seu lado, também vazio. Na próxima esquina, com a rua Monsenhor Coutinho, um enorme terreno está vazio há anos, aberto, profundo, sem muro e sem segurança para os pedestres. O trecho entre as ruas  Saldanha Marinho e Henrique Martins parece um pouco mais conservado, embora tenham sido cometidas algumas barbaridades como a desfiguração da casa onde residiu a professora Eldah Bitton Telles da Rocha, cantora lírica, uma das mulheres mais charmosas da cidade, cuja memória poderia estar conservada na casa onde morou, que deveria   ter sido poupada do urbanismo selvagem, até como exemplo da arquitetura da Manaus dos anos 1930.
Mais adiante, no décimo quarteirão, que termina na avenida 7 de Setembro, o Colégio Estadual Pedro II, cuja quadra mal se pode enxergar devido à presença de oito bancas de revistas, quinquilharias, comidas, cópias de documentos e outras que impedem a contemplação do prédio.
Subindo a avenida a partir da 7  de Setembro passa-se ileso pelo antigo cinema Polytheama, com suas pequenas sereias presas à parede, milagrosamente inteiras. No próximo quarteirão, entre as ruas Lauro Cavalcante e  Huascar de Figueiredo, 18 bancas de camelôs estreitam a passagem dos pedestres, tendo como fundo um muro cheio de pichações. Mais acima, a calçada entre as ruas  Huascar e as 24 de Maio bate o recorde de ocupação irregular do espaço público: ali se instalaram 21 bancas de vários tamanhos, estilos e finalidades.
A avenida Getúlio Vargas é um  exemplo do descaso pelo patrimônio de uma cidade.  Depois desse triste passeio restam duas perguntas: não existe fiscalização por parte da Prefeitura? e  por que não conservar os tesouros e as belezas que a cidade já possui?

Leyla Leong

Nenhum comentário:

Postar um comentário