terça-feira, 31 de julho de 2012


CAVIAR & PEIXE FRITO
NO TEATRO
Leyla Martins Leong
Quando o público entrou no Teatro Amazonas na sexta-feira, dia 27,  quarto dia do 7º. Festival Amazonas Jazz, o músico escolhido para ser o homenageado já estava lá, quietinho, sentado na plateia, umas duas fileiras à minha frente. Ele abriria a cena para a apresentação dos convidados que vieram de fora.
A voz empostada do apresentador anunciou Teixeira de Manaus e um foco de luz iluminou a cabeça do músico, para depois  diluir-se em uma  leve penumbra  que envolveu o público enquanto rolava na tela um documentário com imagens antigas do artista, carregado num compasso saudoso demais para o meu gosto.
Quando foi chamado ao palco a atmosfera ficou um pouco mais pesada e em certo momento duas lágrimas rolaram pelo seu rosto redondo enquanto ouvia os elogios do Secretário Robério Braga.  Cheguei a pensar que o show seria cancelado devido ao visível estado emocional do músico.
Mas não foi o que aconteceu. Ao tomar posse do palco e pôr as mãos no instrumento, aquele senhor alquebrado que teve que ser amparado para subir os poucos degraus que o separavam do espaço cênico incorporou o charmoso Teixeira de Manaus que fazia “o som do seu saxofone propagar-se das margens dos rios às copas das árvores da floresta”, como lembrou o meu amigo Aurélio Michiles, encantando homens e mulheres.
“Estou há quatro anos sem tocar, já havia encerrado a minha carreira, mas passei a semana toda treinando” esclareceu o artista dando início a um show que começou frio para depois atingir altas temperaturas, levando ao delírio o público que superlotou o Teatro Amazonas só para vê-lo, reconhecendo um som que está entranhado no nosso dna.
A princípio o espaço pareceu enorme para apenas um tecladista, um percussionista e o saxofonista, fazendo-me pensar que poderia haver um outro elemento de cena para preencher os doze metros daquele palco italiano. Mais uma vez enganei-me: as portas já estavam abertas e o sax do Teixeira de Manaus havia tomado conta do teatro todo, de  todos os corações, como acontecia no tempo em que tocava na floresta.
Mostrando mais uma vez o poder do seu carisma, tudo o que o músico fez no palco valeu a pena. O menor requebro, o mais leve gesto, qualquer frase por mais simples que fosse fizeram o público aplaudir com um entusiasmo agradecido por existir uma arte e um artista tão parecidos conosco.  
Sofisticado, o Festival Amazonas Jazz trouxe nessa sétima edição apresentações do melhor que se tem no gênero, tanto nacional quando internacional. Quando pensaríamos em ter por perto lendas vivas como o Zimbo Trio, Ron Carter Quartet, Eumir Deodato, David Liebman, Grupo Pau Brasil (entre outros)?
Sem dúvida, o Festival foi um luxo intelectual. Uma festa fina onde não podia faltar o sabor refinado do caviar nem a sofisticação da cultura da floresta e do rio, do nosso peixe e do nosso som.
Ficou combinado, então: Teixeira de Manaus vai repetir a dose todos os domingos de agosto no Teatro Amazonas.