CAVIAR
& PEIXE FRITO
NO TEATRO
Leyla
Martins Leong
Quando o
público entrou no Teatro Amazonas na sexta-feira, dia 27, quarto dia do 7º. Festival Amazonas Jazz, o
músico escolhido para ser o homenageado já estava lá, quietinho, sentado na
plateia, umas duas fileiras à minha frente. Ele abriria a cena para a
apresentação dos convidados que vieram de fora.
A voz
empostada do apresentador anunciou Teixeira de Manaus e um foco de luz iluminou
a cabeça do músico, para depois
diluir-se em uma leve
penumbra que envolveu o público enquanto
rolava na tela um documentário com imagens antigas do artista, carregado num
compasso saudoso demais para o meu gosto.
Quando foi
chamado ao palco a atmosfera ficou um pouco mais pesada e em certo momento duas
lágrimas rolaram pelo seu rosto redondo enquanto ouvia os elogios do Secretário
Robério Braga. Cheguei a pensar que o
show seria cancelado devido ao visível estado emocional do músico.
Mas não foi
o que aconteceu. Ao tomar posse do palco e pôr as mãos no instrumento, aquele
senhor alquebrado que teve que ser amparado para subir os poucos degraus que o
separavam do espaço cênico incorporou o charmoso Teixeira de Manaus que fazia
“o som do seu saxofone propagar-se das margens dos rios às copas das árvores da
floresta”, como lembrou o meu amigo Aurélio Michiles, encantando homens e
mulheres.
“Estou há
quatro anos sem tocar, já havia encerrado a minha carreira, mas passei a semana
toda treinando” esclareceu o artista dando início a um show que começou frio
para depois atingir altas temperaturas, levando ao delírio o público que
superlotou o Teatro Amazonas só para vê-lo, reconhecendo um som que está
entranhado no nosso dna.
A princípio
o espaço pareceu enorme para apenas um tecladista, um percussionista e o
saxofonista, fazendo-me pensar que poderia haver um outro elemento de cena para
preencher os doze metros daquele palco italiano. Mais uma vez enganei-me: as
portas já estavam abertas e o sax do Teixeira de Manaus havia tomado conta do teatro
todo, de todos os corações, como
acontecia no tempo em que tocava na floresta.
Mostrando
mais uma vez o poder do seu carisma, tudo o que o músico fez no palco valeu a
pena. O menor requebro, o mais leve gesto, qualquer frase por mais simples que
fosse fizeram o público aplaudir com um entusiasmo agradecido por existir uma
arte e um artista tão parecidos conosco.
Sofisticado,
o Festival Amazonas Jazz trouxe nessa sétima edição apresentações do melhor que
se tem no gênero, tanto nacional quando internacional. Quando pensaríamos em
ter por perto lendas vivas como o Zimbo Trio, Ron Carter Quartet, Eumir
Deodato, David Liebman, Grupo Pau Brasil (entre outros)?
Sem dúvida,
o Festival foi um luxo intelectual. Uma festa fina onde não podia faltar o
sabor refinado do caviar nem a sofisticação da cultura da floresta e do rio, do
nosso peixe e do nosso som.
Ficou
combinado, então: Teixeira de Manaus vai repetir a dose todos os domingos de
agosto no Teatro Amazonas.