quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sobre livros



Sempre tive curiosidade para saber qual o motivo dos livros , da minha infância até a adolescência, virem com algumas  páginas fechadas. Isso fazia deles objetos de uma certa impaciência gerada pela   curiosidade para começar a lê-los. Antes, porém obedecia-se um ritual: precisava-se ter uma espátula para desvirginar-lhes as páginas. Muitos desses abridores de páginas passaram pelas minhas mãos: de osso, marfim, madeira, de Toledo,  e por último, um de prata, com cabo esmaltado.
Aberto, e antes de começar a leitura, o livro tinha que ser encapado. Havia várias formas de fazê-lo, com dobraduras diferentes.  Em geral usava-se papel madeira, pardo, mas às vezes aproveitava-se restos de papéis  de presente, que eram guardados bem dobrados em uma gaveta. Afinal, vivíamos um tempo em que nada se jogava fora. A seguir, punha-se o nome do proprietário e a data. Leitores  mais refinados mandavam fazer carimbos elegantes. Em geral, punha-se a data, ou o oferecimento de quem o havia presenteado.
Para não perder-se nas páginas, usava-se marcadores de livros. Lembro-me de uns que a minha mãe mandou fazer na Colômbia, por um joalheiro italiano. Eram feitos de prata, com a representação de deuses Chibtas. Em suas viagens pelo mundo, ela sempre trazia marcadores feitos de  papiros, marfim, papéis artesanais.
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Esta edição de “Um Gato na Chuva”, de Hemingway, esclareceu o  mistério literário que me perseguiu por mais de mais de 50 anos. 
Composto e impresso nas oficinas gráficas de Livros do Brasil S.A. ( rua dos Caetanos, 22),um Gato na Chuva” ( “Cat in the rain”), de Ernest Hemingway,  fez parte da Coleção Miniaturas, em cujo elenco  estavam  Albert Camus, Truman Capote, Georges Simenon, François Mauriac, Tennessee Williams  e mais uma dezena de outros autores que não emplacaram.
A coleção de “grandes obras em pequenos volumes” trazia logo na página de rosto uma interessante “Advertência ao Leitor”.
Eila:
“No seu próprio interesse, prezado Leitor, verifique se este livro mantém o lacre branco que sela algumas das suas páginas; neste caso, abra-o, por favor, como abriria um livro não guilhotinado, Isto é, com uma faca, até com um simples cartão, e assim não rasgará as folhas.
Se o livro estiver aberto, rejeite-o, pois é indício de que já foi lido. Defenda a sua saúde não manuseando livros usados”.