- Puxa dona
Leyla, a senhora me ferrou! - abordou-me
a faxineira do meu prédio.
- Como
assim?
- Caiu um
texto da senhora no vestibular e eu me ferrei! Como é que eu podia adivinhar o
que a senhora tinha na cabeça quando escreveu aquilo? Acho que fui reprovada
por sua causa.
Esse
comentário foi a gota d’água que transbordou o meu copo que já estava até aqui
de raiva. Logo de manhã cedo comecei a receber elogios pelo facebook, por
telefone e por e-mail pelo meu texto que havia caído no vestibular da UEA –
Universidade do Estado do Amazonas deste ano. Como não sabia de nada, tive que
perguntar qual o texto e fiquei sabendo
que foi “Sabores da Terra”, que escrevi há uns 7 ou 8 anos a pedido do meu
grande amigo Caio Borges, para um folder que a sua agência de publicidade,
Oficina de Criação, estava produzindo para a Fumtur – Fundação Municipal de
Turismo.
O folder foi
publicado, Caio me pagou e o texto ficou um tempo no site da Fumtur a pedido do
meu colega jornalista Flávio Cohen. Mais tarde foi publicado em uma revista
local ( e pago). Há coisa de dois anos ele vive no meu blog.
Indignada
pela apropriação indébita de um produto cultural de minha autoria, consultei um
advogado que ficou de procurar um especialista nessa área. Depois pedi conselho
a um dos nossos melhores poetas que acabou por jogar um balde de água fria
sobre o assunto. “Olha, parece que existe uma cláusula na lei do direito
autoral que diz que quando o seu texto é usado para fins `culturais’ não merece
qualquer pagamento”.
E que outra
finalidade haverá em escrever textos literários se não a cultural? - me pergunto.
Fico muito
admirada de ver com quanta naturalidade o meu direito de autora foi ferido.
Fico também abalada diante da descortesia da UEA em nem sequer pedir permissão
para o uso, não dar satisfação, não pagar e nem agradecer por um texto que é
resultado de anos de estudo, leituras, cursos, prática, tempo e investimento em
livros e outros bens culturais.
Por um momento
passou-me pela cabeça falar com o Reitor da UEA mas, prevendo o chá de cadeira
costumeiro nessas circunstâncias, prefiro registrar o ato de desrespeito dessa
instituição mantida pelo Governo do Estado, que, em suma, permite que isso
aconteça e tentar receber o pagamento pelo meu trabalho e um pedido der
desculpa dessa universidade.
Enquanto
isso, pessoas me dão os parabéns pela “homenagem”que a UEA me prestou. Por aí
deduz-se o quanto o trabalho artístico é desvalorizado.
Essa
atitude da UEA, a meu ver, se desencontra do fim primordial de uma universidade
que é o de formar cidadãos, ensinando-lhes ética e outros valores morais.
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