Um filme
brasileiro que dispense a presença de Antonio Fagundes, Tony Ramos, Cauã
Raymond, Grazzi Mazzafera e outros, já está valendo. Com tantos atores
excelentes (e belos, se for preciso) nos palcos brasileiros, o cinema nacional insiste
em repetir a dose, sempre com os mesmos atores, por acaso do cast da rede
Globo.
Foi com
esse alívio, que entrei no cinema para assistir ao filme “Gonzaga – de pai para
filho”, de Breno Silveira, cuja filmografia diz tudo do seu gosto pela música
brasileira. “Dois Filhos de Francisco” sucesso de crítica e bilheteria está aí
para chancelar seu nome como um grande contador de histórias de músicos e
intérpretes. Sobre “À Beira do Caminho”
já não posso opinar, mas dizem que é também um outro filme excelente e de grande público, do
mesmo diretor. Infelizmente Roberto Carlos me é insuportável, mesmo quando só as
suas canções açucaradas aparecem, e talvez por isso mesmo.
Assim, só
posso falar do que vi. “Gonzaga de Pai para Filho” fez voltar à minha memória
músicas da minha infância trazidas do nordeste pelos meus avós que eram cearenses.
E, creio, trouxe lembranças que estão enraizadas na nossa nacionalidade. O filme
poderia ter se perdido na simples biografia do Lua, o Rei do Baião, e já daria
um bom resultado. No entanto, Breno Silveira preferiu expor o drama familiar de
dois grandes músicos, pai e filho, Gonzaguinha e Gonzagão, com uma
sensibilidade e isenção admiráveis. A narrativa desses desencontros emocionais
serve de fundo para os sucessos e insucessos da carreira de Luiz Gonzaga e, em
paralelo, a do seu filho Gonzaguinha que, mais para a frente, mereceria um
filme só dele.
O diretor
usou atores e não atores absolutamente desconhecidos das telas, obtendo
desempenhos corretos , alguns, e excelentes outros, sem chegar a comprometer. Compôs
uma reconstituição de época sem os exageros ( muitas vezes fantasiosos) comuns
ao cinema brasileiro que às vezes confunde Rio de Janeiro com Nova York, como
no caso de “Heleno”( 2010), de Henrique Fonseca, estrelando Rodrigo Santoro. Ali
há uma cena grotesca de uma cantora
fazendo um pastiche de Rita Hayword cantando “Put your blame on me”e mostra
Heleno/Santoro, ninando o filho, não com o “Boi da Cara Preta”de Caymmi,
mas com um lullaby em inglês, para ficar
mais chique. Uma loucura!
Enfim,”Gonzaga
de pai para filhoӎ um filme brasileiro.
Sem imitações hollywoodianas, sem atores globais, sem cacoetes.
E viva o
cinema nacional que parece ter encontrado um novo caminho com filmes como esse,
“O Palhaço” (2011), de Selton Melo e
outros excelentes de diretores que tentam dar novos rumos à sétima arte
brasileira.
Leyla Martins Leong
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