segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um filme


Um filme brasileiro que dispense a presença de Antonio Fagundes, Tony Ramos, Cauã Raymond, Grazzi  Mazzafera  e outros, já está valendo. Com tantos atores excelentes (e belos, se for preciso) nos palcos brasileiros, o cinema nacional insiste em repetir a dose, sempre com os mesmos atores, por acaso do cast da rede Globo.
Foi com esse alívio, que entrei no cinema para assistir ao filme “Gonzaga – de pai para filho”, de Breno Silveira, cuja filmografia diz tudo do seu gosto pela música brasileira. “Dois Filhos de Francisco” sucesso de crítica e bilheteria está aí para chancelar seu nome como um grande contador de histórias de músicos e intérpretes. Sobre “À Beira do Caminho”  já não posso opinar, mas dizem que é também um  outro filme excelente e de grande público, do mesmo diretor. Infelizmente Roberto Carlos me é insuportável, mesmo quando só as suas canções açucaradas aparecem, e talvez por isso mesmo.
Assim, só posso falar do que vi. “Gonzaga de Pai para Filho” fez voltar à minha memória músicas da minha infância trazidas do nordeste pelos meus avós que eram cearenses. E, creio, trouxe lembranças que estão enraizadas na nossa nacionalidade. O filme poderia ter se perdido na simples biografia do Lua, o Rei do Baião, e já daria um bom resultado. No entanto, Breno Silveira preferiu expor o drama familiar de dois grandes músicos, pai e filho, Gonzaguinha e Gonzagão, com uma sensibilidade e isenção admiráveis. A narrativa desses desencontros emocionais serve de fundo para os sucessos e insucessos da carreira de Luiz Gonzaga e, em paralelo, a do seu filho Gonzaguinha que, mais para a frente, mereceria um filme só dele.
O diretor usou atores e não atores absolutamente desconhecidos das telas, obtendo desempenhos corretos , alguns, e excelentes outros, sem chegar a comprometer. Compôs uma reconstituição de época sem os exageros ( muitas vezes fantasiosos) comuns ao cinema brasileiro que às vezes confunde Rio de Janeiro com Nova York, como no caso de “Heleno”( 2010), de Henrique Fonseca, estrelando Rodrigo Santoro. Ali há uma cena  grotesca de uma cantora fazendo um pastiche de Rita Hayword cantando “Put your blame on me”e mostra Heleno/Santoro, ninando o filho, não com o “Boi da Cara Preta”de Caymmi, mas  com um lullaby em inglês, para ficar mais chique. Uma loucura!
Enfim,”Gonzaga de pai para filho”é  um filme brasileiro. Sem imitações hollywoodianas, sem atores globais, sem cacoetes.
E viva o cinema nacional que parece ter encontrado um novo caminho com filmes como esse, “O Palhaço” (2011),  de Selton Melo e outros excelentes de diretores que tentam dar novos rumos à sétima arte brasileira. 
                                                                                                                                Leyla Martins Leong


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