sexta-feira, 24 de outubro de 2014

MAKTUB! (Estava escrito!)

Estava escrito que Manaus entraria na minha vida deixando impressões que marcaram e acabaram construindo o que sou agora. Definir uma vida e sua cidade em 200 acontecimentos, lugares, objetos, perfumes, sabores e pessoas. Esse o meu presente para essa cidade que hoje completa 345 anos. Manaus, sou o que fizeste de mim.
Rua Lauro Cavalcante 38
Rua Saldanha Marinho 725
Janelas abertas o dia inteiro
Avó, jasmim no cabelo branco, talco e janela
Avô, linho branco, suspensórios e  guarda chuva preto
Grupo Escolar Barão do Rio Branco
IEA , Vivizinha e Lila Bogéa,  Eunice Serrano
Colégio Estadual, Farias de Carvalho, João Chrisóstomo de Oliveira,
 Mário Ypiranga Monteiro, Norões, Manoel Otávio
 História Geral ,Grego, Latim, Francês
Aulas particulares, tardes quentes,  a  crase
Merenda na Praça da Polícia, refresco de maracujá
Sorvetes do Messias, tapioca
Tacacá, goma, cuia, jambu, tucupi  camarão
Dona Raimunda  
Picadinho de tartaruga no casco, caruru, galinha ao molho pardo
MARIA , uma rainha na cozinha
 Mercado Adolpho Lisboa,  rodway,  Panair do Brasil
Aeroporto de Ponta Pelada
Ponta Negra,  Tarumã
Mangueiras,  ingás,   banho  de igarapé
 Peixe , cuia   
 Vinho de cupuaçu cortado na tesoura,  mel de cana com farinha branca
Jambo, bugarí , vitrola
geladeira a querozene,  Aladim, candeeiros, velas, lanternas
 Iapetec  andiroba,  castanha,  canoa
 Rua do bate palmas,   zonafranca,  booth line
Xcaboquinho,  mulateiro,  café do pina, praça da polícia
Papoulas,  caldeirada de tucunaré,  cheiro verde,  pirão, abiu,   açaí
Bubuia,   banzeiro, mano, pitiú, remo
Tucumã , tento,  sarapatel , encontro das águas
Porto de lenha,  manauara,  manauense
Ajuricaba, Manáos,  picolezeiro,  bananeiro
Motor de linha,escadaria dos remédios,  chuva
Água,  guaraná , taperebá , pupunha
Pulseira de pau d ‘Angola, anelzinho de chapa, organdi
Banhos de igarapé, Parque 10
Avenida Eduardo Ribeiro,  Avenida Getúlio Vargas
Eldah BittonTelles da Rocha , Alaíde Paixão
Aury Matheus,  Athlético Rio Negro Club
Je Reviens,  Chanel  n.5,  Petit Fleur, sabonete Phebo,  Messody
Saia plissada, vestido bordô,  saia de linho, salto sete e meio
Orquídeas Modas, anel  Romeu e Julieta
Pedras de Lioz, paralelepípedos, aulas de piano
Rede,  Stefan Zweig, Tolstoi, Dostoiévski, Tchekov (
 Jorge Amado, Eça de Queiroz,  Hemingway, Sartre, Álvaro Maia, Malba Tahan 
Somerset  Maugham, Moacir Andrade, Afrânio de Castro, Luiz Bacellar
Guarany,  Polytheama , Éden,  Avenida,  Odeon
“Les Amants”, O Belo Antonio”, “Juventude Transviada” Lina Vertmüller, Fellinni  Glauber
Dona Iaiá, os bombomzeiros , Praça de São Sebastião
Cheryl Chessman, Marilyn Monroe, Elvis, James Dean
Banda da Polícia, coreto, Bombalá, Chapeuzinho Vermelho,  Carmem, “a  Doida”
Picolé, cascalhinho, álbuns de fotografias, cantoneiras, preto e branco
Porta retratos,
Pisos de taboa corrida, vitrais, louça inglesa
Cachorros (todos viralatas), gatos, macaco de cheiro,
Tartaruguinhas, jabuti, rouxinol do rio Negro
Papagaios, quintal, cadeiras de embalo, conversas  
Costureiras, botões forrados, lencinhos bordados
Ponto à jour, bainhas feitas a mão, chuleados
Combinação, galochas, casa Colombo, Maria do Mansur,

Confeitaria Avenida. 

domingo, 24 de março de 2013

CATS TO GO x CATS TO STAY




Macavity, Macavity, there’s no one like Macavity
For he’s a fiend in feline shape, a monster of depravity.
You may meet him in a by-street or may see him in the squares
But when a crimes’s  discovery, then Macavity’s not there” 
( trecho do poema “Macavity – The Mystery Cat”de T.S. Eliot)






A primeira vez que vi  Tapuia passar correndo com um passarinho atravessado na boca fiquei chocada. Sabia que gatos comiam pássaros, ratos e outros seres menores que circulam no jardim. Mas jamais pensei que Tapuia , tão delicada ,tão doce e tão bem alimentada fosse capaz de uma coisa dessas. Ela foi criada em casa, com liberdade de sair para a rua, o que fazia todos os dias, exceto quando entrava no cio, tempo em que era visitada por vários gatos e gostava de fazer amor no terraço, entre os vasos de plantas, ou no jardim, debaixo das palmeiras. Um amor ruidoso que durava muitas horas e miados de muitos decibéis.
É que o apego aos nossos bichinhos de estimação nos faz perder o sentido do raciocínio e da realidade de que são animais e, no caso dos gatos, caçadores inatos e curiosos.
Pois bem, acabo de saber que a minha querida gatinha – espero que Deus a tenha perdoado -  se enquadra na categoria dos gatos “delinquentes”- aqueles que moram com você mas tem liberdade para sair, dar suas voltinhas  e depois voltar para casa. Esses, e os gatos “ferais” - aqueles que vivem soltos pelas ruas- foram rebaixados à categoria de vilões que ameaçam o equilíbrio ecológico das grandes cidades do mundo.
As estatísticas levantadas pelos pesquisadores do assunto estão aí: gatos com tutores ( donos) abatem uma média de 3 a 13 aves e mais 9 mamíferos por ano; já os “ferais”, aqueles que andam soltos, cantados em prosa e verso  pela literatura, como livres e filosóficos, matam de 38 a 40 aves e de 177 a  300 mamíferos por ano.
Portanto, a população crescente dos pequenos gatos domésticos ( Felis catus) deve ser contida imediatamente. Ou seja, eliminada, segundo alguns, em prol de afrouxar o impacto que eles exercem sobre a dinâmica ecológica. O primeiro a levantar essa bandeira foi o economista  neozelandês Goreth Morgan, que esteve recentemente no Brasil divulgando a sua campanha “Cats to Go”. Pela sua perspectiva, os gatos domésticos estão ameaçando a vida silvestre da Nova Zelândia.
Imediatamente outras vozes se levantam para defender o bicho mais charmoso do planeta: são os amantes dos gatos, cuja campanha se intitula “Cats do stay”.
Para contrapor-se ao movimento dos “carrascos”, que propõem que os gatos domésticos sejam mortos ou confinados, os que os defendem também lançam mão dos meios de comunicação e começam a treinar seus gatos a viver em reclusão ou em regimes semi-abertos, treinando-os a sair de casa só alguns metros e usar sinos no pescoço para “avisar”as possíveis vítimas, de sua presença no pedaço.
Há coisa de uns vinte anos, em uma das minhas viagens a Miami resolvi visitar minha amiga Glória Carvalho. Havíamos trabalhado juntas no Teatro Amazonas. Ela me recebeu em seu apartamento. Logo ao entrar levei um susto. Em cada canto, nos lugares menos possíveis de imaginar havia um gato fazendo pose: em cima da geladeira estavam dois,  negros, de olhos verdes. No balcão da cozinha uns três, na sua cama uma meia dúzia. Passada a surpresa inicial, ela me convidou para dar uma volta. Descemos até a garagem carregando um enorme saco de ração. Ela abriu a mala do carro, lotada de medicamentos e seringas.
Glória ligou o carro e me levou a uma praça. A sua presença atraiu uma multidão de gatos que começaram a miar em uma espécie de saudação felina.  Todos a conheciam e ela os conhecia tão bem que os chamava pelos nomes. Distribuída a  ração e administrada a medicação aos doentes, nos retiramos em direção a outra praça, onde ela distribuiu comida, remédios e carinho aos gatos de rua ( de praça, no caso).
Gloria era uma espécie de paraveterinária ( assim como existem os paramédicos dos humanos). Foi treinada para fazer um primeiro diagnóstico, prestar os primeiros socorros e cuidar de que aquela população fosse castrada, para evitar uma explosão populacional. Tudo nos conformes.
Ela recebeu uma homenagem da Prefeitura pelo seu trabalho, tornando-se uma cidadã ilustre da cidade.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sobre livros



Sempre tive curiosidade para saber qual o motivo dos livros , da minha infância até a adolescência, virem com algumas  páginas fechadas. Isso fazia deles objetos de uma certa impaciência gerada pela   curiosidade para começar a lê-los. Antes, porém obedecia-se um ritual: precisava-se ter uma espátula para desvirginar-lhes as páginas. Muitos desses abridores de páginas passaram pelas minhas mãos: de osso, marfim, madeira, de Toledo,  e por último, um de prata, com cabo esmaltado.
Aberto, e antes de começar a leitura, o livro tinha que ser encapado. Havia várias formas de fazê-lo, com dobraduras diferentes.  Em geral usava-se papel madeira, pardo, mas às vezes aproveitava-se restos de papéis  de presente, que eram guardados bem dobrados em uma gaveta. Afinal, vivíamos um tempo em que nada se jogava fora. A seguir, punha-se o nome do proprietário e a data. Leitores  mais refinados mandavam fazer carimbos elegantes. Em geral, punha-se a data, ou o oferecimento de quem o havia presenteado.
Para não perder-se nas páginas, usava-se marcadores de livros. Lembro-me de uns que a minha mãe mandou fazer na Colômbia, por um joalheiro italiano. Eram feitos de prata, com a representação de deuses Chibtas. Em suas viagens pelo mundo, ela sempre trazia marcadores feitos de  papiros, marfim, papéis artesanais.
CLIQUE NA IMAGEM PARA AUMENTAR
Esta edição de “Um Gato na Chuva”, de Hemingway, esclareceu o  mistério literário que me perseguiu por mais de mais de 50 anos. 
Composto e impresso nas oficinas gráficas de Livros do Brasil S.A. ( rua dos Caetanos, 22),um Gato na Chuva” ( “Cat in the rain”), de Ernest Hemingway,  fez parte da Coleção Miniaturas, em cujo elenco  estavam  Albert Camus, Truman Capote, Georges Simenon, François Mauriac, Tennessee Williams  e mais uma dezena de outros autores que não emplacaram.
A coleção de “grandes obras em pequenos volumes” trazia logo na página de rosto uma interessante “Advertência ao Leitor”.
Eila:
“No seu próprio interesse, prezado Leitor, verifique se este livro mantém o lacre branco que sela algumas das suas páginas; neste caso, abra-o, por favor, como abriria um livro não guilhotinado, Isto é, com uma faca, até com um simples cartão, e assim não rasgará as folhas.
Se o livro estiver aberto, rejeite-o, pois é indício de que já foi lido. Defenda a sua saúde não manuseando livros usados”.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CAÍ NO VESTIBULAR


- Puxa dona Leyla, a senhora me ferrou! -  abordou-me a faxineira do meu prédio.
- Como assim?
- Caiu um texto da senhora no vestibular e eu me ferrei! Como é que eu podia adivinhar o que a senhora tinha na cabeça quando escreveu aquilo? Acho que fui reprovada por sua causa.
Esse comentário foi a gota d’água que transbordou o meu copo que já estava até aqui de raiva. Logo de manhã cedo comecei a receber elogios pelo facebook, por telefone e por e-mail pelo meu texto que havia caído no vestibular da UEA – Universidade do Estado do Amazonas deste ano. Como não sabia de nada, tive que perguntar qual  o texto e fiquei sabendo que  foi “Sabores da Terra”,  que escrevi há uns 7 ou 8 anos a pedido do meu grande amigo Caio Borges, para um folder que a sua agência de publicidade, Oficina de Criação, estava produzindo para a Fumtur – Fundação Municipal de Turismo.
O folder foi publicado, Caio me pagou e o texto ficou um tempo no site da Fumtur a pedido do meu colega jornalista Flávio Cohen. Mais tarde foi publicado em uma revista local ( e pago). Há coisa de dois anos ele vive no meu blog.
Indignada pela apropriação indébita de um produto cultural de minha autoria, consultei um advogado que ficou de procurar um especialista nessa área. Depois pedi conselho a um dos nossos melhores poetas que acabou por jogar um balde de água fria sobre o assunto. “Olha, parece que existe uma cláusula na lei do direito autoral que diz que quando o seu texto é usado para fins `culturais’ não merece qualquer pagamento”.
E que outra finalidade haverá em escrever textos literários se não a cultural? -  me pergunto.
Fico muito admirada de ver com quanta naturalidade o meu direito de autora foi ferido. Fico também abalada diante da descortesia da UEA em nem sequer pedir permissão para o uso, não dar satisfação, não pagar e nem agradecer por um texto que é resultado de anos de estudo, leituras, cursos, prática, tempo e investimento em livros e outros bens culturais.
Por um momento passou-me pela cabeça falar com o Reitor da UEA mas, prevendo o chá de cadeira costumeiro nessas circunstâncias, prefiro registrar o ato de desrespeito dessa instituição mantida pelo Governo do Estado, que, em suma, permite que isso aconteça e tentar receber o pagamento pelo meu trabalho e um pedido der desculpa dessa universidade.
Enquanto isso, pessoas me dão os parabéns pela “homenagem”que a UEA me prestou. Por aí deduz-se o quanto o trabalho artístico é desvalorizado.
Essa atitude da UEA, a meu ver, se desencontra do fim primordial de uma universidade que é o de formar cidadãos, ensinando-lhes ética e outros valores morais.
(CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR)

Um filme


Um filme brasileiro que dispense a presença de Antonio Fagundes, Tony Ramos, Cauã Raymond, Grazzi  Mazzafera  e outros, já está valendo. Com tantos atores excelentes (e belos, se for preciso) nos palcos brasileiros, o cinema nacional insiste em repetir a dose, sempre com os mesmos atores, por acaso do cast da rede Globo.
Foi com esse alívio, que entrei no cinema para assistir ao filme “Gonzaga – de pai para filho”, de Breno Silveira, cuja filmografia diz tudo do seu gosto pela música brasileira. “Dois Filhos de Francisco” sucesso de crítica e bilheteria está aí para chancelar seu nome como um grande contador de histórias de músicos e intérpretes. Sobre “À Beira do Caminho”  já não posso opinar, mas dizem que é também um  outro filme excelente e de grande público, do mesmo diretor. Infelizmente Roberto Carlos me é insuportável, mesmo quando só as suas canções açucaradas aparecem, e talvez por isso mesmo.
Assim, só posso falar do que vi. “Gonzaga de Pai para Filho” fez voltar à minha memória músicas da minha infância trazidas do nordeste pelos meus avós que eram cearenses. E, creio, trouxe lembranças que estão enraizadas na nossa nacionalidade. O filme poderia ter se perdido na simples biografia do Lua, o Rei do Baião, e já daria um bom resultado. No entanto, Breno Silveira preferiu expor o drama familiar de dois grandes músicos, pai e filho, Gonzaguinha e Gonzagão, com uma sensibilidade e isenção admiráveis. A narrativa desses desencontros emocionais serve de fundo para os sucessos e insucessos da carreira de Luiz Gonzaga e, em paralelo, a do seu filho Gonzaguinha que, mais para a frente, mereceria um filme só dele.
O diretor usou atores e não atores absolutamente desconhecidos das telas, obtendo desempenhos corretos , alguns, e excelentes outros, sem chegar a comprometer. Compôs uma reconstituição de época sem os exageros ( muitas vezes fantasiosos) comuns ao cinema brasileiro que às vezes confunde Rio de Janeiro com Nova York, como no caso de “Heleno”( 2010), de Henrique Fonseca, estrelando Rodrigo Santoro. Ali há uma cena  grotesca de uma cantora fazendo um pastiche de Rita Hayword cantando “Put your blame on me”e mostra Heleno/Santoro, ninando o filho, não com o “Boi da Cara Preta”de Caymmi, mas  com um lullaby em inglês, para ficar mais chique. Uma loucura!
Enfim,”Gonzaga de pai para filho”é  um filme brasileiro. Sem imitações hollywoodianas, sem atores globais, sem cacoetes.
E viva o cinema nacional que parece ter encontrado um novo caminho com filmes como esse, “O Palhaço” (2011),  de Selton Melo e outros excelentes de diretores que tentam dar novos rumos à sétima arte brasileira. 
                                                                                                                                Leyla Martins Leong


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Concurso estimula novos cientistas



Leyla Martins Leong

Quando eu tinha uns sete  para  oito  anos, ganhei de presente de aniversário a coleção completa ( 18 volumes), do “Thesouro da Juventude”. Espécie de enciclopédia, o “Thesouro”, entre outras, tinha a intenção de “estimular o amor à humanidade  através de bons exemplos.  Uma página descreve a terra, o sistema planetário e o cosmos; outra se ocupa dos reinos da Natureza(....) em outra fala dos homens e mulheres célebres, que facilitaram a vida por suas invenções ou a iluminaram por seu pensamento, ou a enobreceram por seus atos” diz o republicano Clóvis
Bevilaqua na introdução à edição brasileira.
Por um descuido dos nossos editores ( a coleção  original é norte-americana), não ficou registrado o ano da publicação, mas pela página 14 dá para sentir a velocidade com que o mundo se desenvolveu e o quanto a ciência avançou de lá para cá. Uma impressionante gravura intitulada “O incomensurável universo”, informa que para chegar à lua o homem teria que fazer uma viagem de 49 dias. A Apollo 11 levou apenas 3  para chegar lá.
Folheando as páginas amareladas do  “Thesouro” da minha infância, o tempo correu para trás e para frente na memória ,ressaltando o conforto do presente e o quanto a ciência sempre esteve a serviço da humanidade para torná-la mais feliz.
Essa constatação me levou aos capítulos em que o livro aborda a vida das pessoas célebres pela nobreza de caráter, pelo posicionamento diante da vida e pela contribuição dada à ciência.
Lembrei-me dos célebres do  Thesouro da Juventude ao ler  a revista “Amazonas faz Ciência” deste mês, editada pela Fapeam – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas.  Na última página, o artigo “Um entusiasta amazônida”, descreve em poucas linhas o perfil de um desses benfeitores da humanidade: o médico Heitor Vieira Dourado ( 1938-2010). Nascido no Pará, Dourado passou a maior parte da sua vida no Amazonas dedicando-se  à pesquisa para a erradicação da malária, doença tropical que em alguns casos pode ser fatal, e que apresentou 300 mil casos no Brasil ano passado, 99% deles na Amazônia Legal.
Como presidente do Conselho Curador da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera – FDB, cargo que ocupou por alguns anos, Heitor Dourado destacou-se pelo incentivo a  projetos de pesquisa científica no Amazonas.
Eis que agora, a FDB cria o Prêmio de Iniciação Científica Heitor Vieira Dourado com o objetivo de estimular estudantes das Ciências da Saúde a seguir carreira nesse campo, com ênfase na pesquisa sobre doenças tropicais e infectologia, especialidades do patrono do concurso, responsável pela formação de muitos cientistas que foram seus alunos nas Universidades do Amazonas e do Pará, onde lecionou.
O concurso que reverencia este grande amazônida premiará trabalhos de conclusão de curso, PIBIC, dissertação de mestrado, tese de doutorado e monografia sobre doenças tropicais como leishmaniose, malária, oncocercose, tuberculose, filarioses, hepatites e outras. O regulamento pode ser acessado pela internet no  site da FDB.

Assassinato à luz do dia na praça de São Sebastião


Leyla Martins Leong

Foi preciso a força de oito criminosos para consumar o assassinato de uma só árvore. E nem era uma árvore daquelas enormes que vivem na floresta. Era uma pequena mangueira urbana que enfeitava e dava sombra aos caminhantes e namorados na Praça de São Sebastião.
Os oito carrascos acordaram cedo na manhã de sábado para executá-la. O horário, de pouco movimento,  teria sido  ideal,  não fossem os olhos atentos dos funcionários da Rede Rio Mar e de alguns vizinhos madrugadores que testemunharam a morte e imediatamente a denunciaram nas redes sociais, uma vez que é impossível qualquer comunicação com órgãos oficiais nos finais de semana.
Encresparam-se as águas dos defensores da cidade, da Natureza e do cumprimento dos  deveres do poder para com os cidadãos. Descoberto o mandante, veio então a explicação (?): a árvore estava doente e por isso deveria morrer. Sem tratamento, sem esperanças. Medida drástica e fatal.
E vieram também as suposições: ela teria sido cortada porque empatava a visão direta do Teatro Amazonas, fato que estaria estressando os ralos turistas que nos visitam e precisam voltar para casa com pelo menos uma foto justamente daquele ângulo  do Teatro; ou ela, coitada, nasceu no lugar errado, atravessada no caminho do Auto de Natal; ou ainda, ela teria sido morta para dar lugar a um novo quiosque de venda de quinquilharias.
O certo é que essa ação criminosa, que antes passava batida para uma população indiferente, agora toma novas  proporções. Tudo dá a entender que despertamos do longo sono da leseira baré que nos impediu de protestar diante de décadas de desmandos que (quase) destruíram a nossa cidade.
Foi assim que sumiu uma escada caracol toda trabalhada do Mercado Adolfo Lisboa e, de lá também, um relógio alemão  enorme que dava as horas de frente para o rio Negro, algumas penteadeiras  e as portas de madeira nobre e cristal, trabalhadas sobre o tema do guaraná,  que separavam o hall do Teatro Amazonas do acesso à plateia. Os paralelepípedos de borracha que forravam algumas calçadas do centro e outras joias da nossa história. Estátuas, fontes, pavilhões e até bondes somem ou mudam de lugar sem qualquer explicação. Projetos param de funcionar, centros de cultura fecham, abrem, são extintos sem que seus gestores se sintam na obrigação de justificar.
Agora o cidadão aprendeu  a cobrar satisfações dos gastos públicos, dos prazos não cumpridos de obras fantasmas como a restauração do Mercado Municipal Adolpho Lisboa e da Biblioteca Estadual que, somados, se estendem por mais de uma década sem explicações convincentes.
Conscientes da importância da arborização para a beleza e saúde de uma cidade que tem tudo para ser feliz, o povo protesta. O replantio de 500 árvores não compensa a morte de uma sequer, pois a Natureza é única em seu equilíbrio. Os gastos exorbitantes com os  trens  da alegria dos viajantes oficiais que dizem estar promovendo a imagem do Amazonas no exterior ( com o nosso dinheiro, é claro) não compensam nem chegam aos pés do efeito positivo da preservação dos bens públicos  e do respeito aos  cidadãos e à cidade.