Livrarias
são locais perigosos para mim. Dentro delas não me contenho, me apaixono
facilmente, não consigo sair sem levar comigo nem que seja um livro e aquela angustia pesada
de não trazer para casa mais uns dois ou três. Títulos, histórias, estilos, autores,
formatos e capas me deixam totalmente enfeitiçada.
Bibliotecas
também me fascinam ( pena que a biblioteca da nossa cidade esteja fechada há
anos). Mas também me encantam os meus próprios livros; vivo cercada deles. Tenho
também muita atração pela estética dos livros. O livro em si, como objeto. Livros
antigos, de capas forradas de pano são lindos; há também outros com capas
feitas de couro com desenhos dourados e até com as páginas banhadas a ouro.
Tenho alguns livrinhos bem pequenos, em formatos ora em desuso, como “Proverbs
and Maxims”, coletadas por John L. Rayner, editado pela Cassel and Company,
Ltd. da Inglaterra( 12x7 cm) 251 páginas. O livro pertenceu ao meu avô, e traz aproximadamente
quatro mil provérbios organizados por assunto. “Ressurreição”, de Leon Tolstoi
(Civilização Brasileira S.A, 1936), tem
também um formato nunca mais visto ( 14x9cm). Fazia parte das Coleções
Econômicas, só de clássicos da literatura universal como Balzac, Dostoiévsky,
Dumas. Minha mãe leu os dois volumes desse livro quando estava grávida de
mim. A Bôlsa Editora do Livro ,
lançou na mesma época coleções do mesmo
formato, cujo slogan era “livro de bôlso sem PESAR na sua Bôlsa”. Também leu Émile
Zola, cujo nome a editora Guimarães & Cia. de Lisboa aportuguesou para
Emilio Zola, por obra e graça de um
tradutor que assinava com o pseudônimo de Pandemônio.
Livros
revelam histórias paralelas às que estão impressas no papel. Encontrei na
biblioteca da família, um que me chamou a atenção: “A Surdez de Beethoven”, de
Octacilio Lopes, presumo que uma edição do autor, datada de 1929, impressa na
Nova Graphica Bahia. Por essa época, as pessoas marcavam os livros com os seus
nomes. O livro pertenceu primeiro à minha avó, Ana Telles de Souza, que depois
deve tê-lo dado de presente à minha tia Elza ( na certa porque
ela tocava piano e apreciava Beethoven) que riscou o nome da mãe para colocar o dela e a data: 13.8.1933. O
autor era médico otologista, o que corresponderia hoje a um
otorrinolaringologista, creio eu, e o pequeno livro é a conferência feita por ele aos doutorandos
de 1927
( certamente na Faculdade de Medicina da Bahia), onde o meu avô
estudou.
As capas
são um capítulo à parte. Na década de 1960 Jorge Amado estava no auge. Li tudo
dele, que havia se tornado um best seller. Tenho a nona edição ( 1960) de “Jubiabá”, da Livraria Martins Editora, com
capa de Clovis Graciliano . À época os livros eram numerados para controle do
autor: o meu é o número 1069. Tenho muitos outros de Jorge Amado, com capas e
ilustrações de Carybé e de Santa Rosa.
Encontrei ainda
entre meus livros a 17ª. Edição ( 66º. milhar, edição definitiva) de “A
Selva”de Ferreira de Castro, Ed. Guimarães, de Portugal, que começa assim: “fato branco, engomado, luzidio, do melhor
H.J. ( ...) o senhor Balbino entrou na “Flor da Amazônia”mais rabioso do que
nunca.....
Leyla Martins Leong