quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

LIVROS QUERIDOS DIZEM COISAS ALÉM DOS TEXTOS

Livrarias são locais perigosos para mim. Dentro delas não me contenho, me apaixono facilmente, não consigo sair sem levar comigo  nem que seja um livro e aquela angustia pesada de não trazer para casa mais uns dois ou três. Títulos, histórias, estilos, autores, formatos e capas me deixam totalmente enfeitiçada.
Bibliotecas também me fascinam ( pena que a biblioteca da nossa cidade esteja fechada há anos). Mas também me encantam os meus próprios livros; vivo cercada deles. Tenho também muita atração pela estética dos livros. O livro em si, como objeto. Livros antigos, de capas forradas de pano são lindos; há também outros com capas feitas de couro com desenhos dourados e até com as páginas banhadas a ouro. Tenho alguns livrinhos bem pequenos, em formatos ora em desuso, como “Proverbs and Maxims”, coletadas por John L. Rayner, editado pela Cassel and Company, Ltd. da Inglaterra( 12x7 cm) 251 páginas. O livro pertenceu ao meu avô, e traz aproximadamente quatro mil provérbios organizados por assunto. “Ressurreição”, de Leon Tolstoi (Civilização Brasileira S.A, 1936),  tem também um formato nunca mais visto ( 14x9cm). Fazia parte das Coleções Econômicas, só de clássicos da literatura universal como Balzac, Dostoiévsky, Dumas. Minha mãe leu os dois volumes desse livro quando estava grávida de mim.  A Bôlsa Editora do Livro , lançou  na mesma época coleções do mesmo formato, cujo slogan era “livro de bôlso sem PESAR na sua Bôlsa”. Também leu Émile Zola, cujo nome a editora Guimarães & Cia. de Lisboa aportuguesou para Emilio Zola,  por obra e graça de um tradutor que assinava com o pseudônimo de Pandemônio.

Livros revelam histórias paralelas às que estão impressas no papel. Encontrei na biblioteca da família, um que me chamou a atenção: “A Surdez de Beethoven”, de Octacilio Lopes, presumo que uma edição do autor, datada de 1929, impressa na Nova Graphica Bahia. Por essa época, as pessoas marcavam os livros com os seus nomes. O livro pertenceu primeiro à minha avó, Ana Telles de Souza, que depois deve tê-lo dado de presente à minha tia Elza ( na certa  porque  ela tocava piano e apreciava Beethoven) que riscou o nome da mãe  para colocar o dela e a data: 13.8.1933. O autor era médico otologista, o que corresponderia hoje a um otorrinolaringologista, creio eu, e o pequeno livro  é a conferência feita por ele aos doutorandos de 1927 
( certamente na Faculdade de Medicina da Bahia), onde o meu avô estudou.

As capas são um capítulo à parte. Na década de 1960 Jorge Amado estava no auge. Li tudo dele, que havia se tornado um best seller. Tenho a nona edição ( 1960)  de “Jubiabá”, da Livraria Martins Editora, com capa de Clovis Graciliano . À época os livros eram numerados para controle do autor: o meu é o número 1069. Tenho muitos outros de Jorge Amado, com capas e ilustrações de Carybé e de Santa Rosa.
Encontrei ainda entre meus livros a 17ª. Edição ( 66º. milhar, edição definitiva) de “A Selva”de Ferreira de Castro, Ed. Guimarães, de Portugal, que começa assim: “fato branco, engomado, luzidio, do melhor H.J. ( ...) o senhor Balbino entrou na “Flor da Amazônia”mais rabioso do que nunca.....


Leyla Martins Leong

A GRAÇA DA VIDA ESTÁ NAS PEQUENAS COISAS


Para minha amiga Neide Gondim


O carinho começou de véspera, dentro de um prosaico super mercado onde ela escolheu com cuidado, sem pressa, o melhor feijão, os maços de couve mais viçosos , os pés de porco, as costelinhas, os chouriços, a carne seca e os outros ingredientes de uma  feijoada .
Com exceção da couve, que é preparada pouco antes do prato ser servido, tudo foi posto de molho à noite, para estar macio no dia seguinte. Enquanto catava os grãos e cortava as carnes pensava nos amigos que iriam sentar-se à sua mesa  para degustar uma comida feita com as suas próprias mãos, com o maior carinho, somente para agradá-los.
Na manhã seguinte bem cedo acendeu o fogo, dando início à cerimônia sagrada de preparar o alimento, cujo aroma não tardou a espalhar-se pela casa  prenunciando delícias.
Mais tarde estendeu sobre a mesa a brancura de uma toalha bordada e engomada, sobre a qual dispôs a louça, sem qualquer receio quanto à possibilidade de manchas indeléveis ou de desfalque da baixela. Gestos de amor são assim: arriscados e generosos.
Quando o prato principal já estava encaminhado, as panelas alegres e fumegantes, foi a vez dos doces. Sem descansar, quebrou e bateu ovos, peneirou e misturou o açúcar, derramou o leite devagarzinho alternando com a manteiga, até que a massa ficasse bem branquinha e o seu braço cansasse.  Esperou o forno esquentar antes de colocar a forma para assar em banho-maria  e ficou por ali, aguardando que o cheirinho do pudim dominasse a casa.
Só então entrou no quarto para tomar banho e se perfumar para receber os amigos. Estava radiante e o coração pulsava leve. Afinal vinha exercitando o amor há pelo menos 24 horas.
A cada abraço, o cansaço do trabalho braçal da cozinha foi se apagando como por milagre, até desaparecer por completo no frescor das conversas.
Quem recebe amigos com generosidade, seja ela de qualquer dimensão, em mesas ricas ou pobres  alimenta não só o corpo mas algo mais sutil, misterioso e intangível. Quem assim o faz celebra a amizade e agradece ao destino que escolheu pessoas tão queridas para lhe fazer companhia nos caminhos da vida. Quem recebe se entrega e escancara o seu amor pelos amigos, doa seu tempo, talento e graça para fazê-los felizes por alguns momentos, pelo sabor de uma comida, o toque de uma taça, o riso facilitado por uma bebidinha.
Quem aceita o convite para compartilhar um alimento deve sentir-se privilegiado por ter sido chamado para aquele momento tão especial e ao mesmo tempo tão cotidiano, cuja intenção, aparentemente pequena e trivial é, na verdade,  uma das maiores expressões do amor entre as pessoas.
Ao receber um convite não falte. Se não puder ir avise, justifique a ausência  e agradeça.
Se aceitar, reverencie aquele que abre a porta da casa e do coração para recebê-lo. Agradeça a gentileza e não esqueça nunca de retribuir.

Leyla Martins Leong

domingo, 15 de janeiro de 2012

OS RICOS E OS QUE TÊM DINHEIRO UMA FARSA TELEVISIVA





O ano abriu com pelo menos três realities shows simultâneos, provando que a fórmula funciona e dá Ibope neste país sem leitura: o desgastado BBB,  da Globo, onde pessoas sem qualquer relevo dizem e fazem bobagens durante 24 horas sem parar por  três longos meses; a promessa diferente da Record, que aposta no apelo da causa ambientalista  e  uma novidade bizarra,  “Mulheres Ricas”, da Band que largou na frente, estreando semana passada.
Dele fazem parte cinco mulheres de meia idade com  fortes e indisfarçáveis  interferências cirúrgicas, em desacordo com a idade declarada. Uma joalheira ( Lydia  Lopes); uma arquiteta ( Brunette Fraccaroli);uma empresária e apresentadora ( Val Marchiori ) ; uma piloto ( a ex-sem-terra Débora Rodrigues) e a socialite carioca Narcisa Tamborindeguy, cuja missão é compartilhar com o público o dia a dia das muito “ricas”.
Com exceção de Narcisa,   que pelo menos duas vezes ao ano comparece a  algum programa de televisão ou a umas poucas linhas na Caras, e Débora Rodrigues, a ex-sem terra que foi capa da Playboy, as outras três são ilustres desconhecidas.
A estréia mostrou de cara que a realidade do programa passa tão longe quanto os delírios de uma tela de Salvador Dalí,.
Exageradíssimas em suas performances, essas mulheres ficam na superficialidade, confundindo o papel de ricas  com o de peruas desvairadas que não temem desafiar a população de famintos deste país de miseráveis, com ostentações  grosseiras e  interpretações sem nenhum talento do papel que lhes foi confiado.
A boba alegre Narcisa começa desafiando as outras quando  declara ser a única rica do time porque a sua fortuna é de “nascença”. Lydia, a joalheira  abre o jogo dizendo que os ricos têm que gastar para que  o dinheiro “gire”. A arquiteta Brunette Fraccaroli é um prato cheio para os  psicanalistas, quando assume o papel da boneca Barbie. Em uma cena ela diz que o seu cachorrinho é gente e que ela gostaria de ser um cachorrinho também. Cuidado, Brunette, os deuses ouvem tudo e você pode voltar como  cachorro de madame na outra encarnação e ser tratado como gente, para ver como deve ser bom ser castrado e educado. A sem terra Débora Rodrigues, hoje uma mulher com muito dinheiro, mostrou-se um pouco deslocada no programa de  estréia, ainda sem saber como entrosar-se no mundo fútil, não das ricas, que essas trabalham, mas no das peruas.
Val Marchiori, a mais enjoativa de todas é o tipo mais comum de quem pensa que é rica. Tem dela em todos os lugares. Manaus está cheia. São mulheres ostensivas e inconseqüentes, cafonas e mal educadas.
Essas mulheres têm dinheiro, mas não são ricas. É que rico é outra coisa. Para começo de conversa, rico  jamais entraria nessa fria de aparecer em um reality show e muito menos para mostrar que tem dinheiro. Eles não querem a evidência. Em primeiro lugar, o que os ricos mais temem é o imposto de renda, depois os ladrões, a concorrência, as ex-mulheres e seus pedidos de pensão. Rico é um ser discretíssimo que pouco aparece. Suas festas são exclusivas e quase sempre fora do Brasil, que é para não chocar a opinião pública e, em alguns casos,  evitar investigações sobre a procedência de tanto dinheiro.

Leyla Martins Leong

Um bom livro: " Os Gatos "





(...) gatos são elegantes e silenciosos e têm efeito decorativo; uns leõezinhos relativamente dóceis, andando pela casa.(...) Um gato faz de um lar, um lar ; com um gato um escritor não está só, no entanto, está sozinho o bastante para trabalhar. Mais do que isso, um gato é uma obra de arte ambulante, dorminhoca e em constante transformação. ( ...). Trechos de “Os gatos”, de Patricia Highsmith , escritora americana conhecida pelos seus thrillers psicológicos. “Os gatos”é um livrinho delicioso de 118 páginas, da L&PM Pocket ( ao redor de R$ 8,00). São três histórias, três poemas, um ensaio e 7 desenhos da autora tendo o gato como assunto. Highsmith é também autora de “O talentoso Ripley”( lembram do filme?). Imperdível para quem gosta desses bichinhos.

Leyla Martins Leong

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Clint Eastwood

Clint Eastwood

Há coisas inevitáveis. A velhice é uma delas. Daí para a frente só fica valendo o talento e a graça. Dizem que Deus deu a graça às criancinhas para que os adultos relevem as suas criancices. Na velhice não é tão fácil assim, porque se na infância as coisas se somam, na velhice elas vão se perdendo: a beleza, a força, o charme e até a inteligência ( dizem).

O negócio então, é assumir; assumir tudo, inventando atrativos outros, como a sabedoria, o senso crítico e uma outra beleza, dessa vez a real, sem retoques.

O magnífico Clint Eastwood foi um homem lindo na sua juventude e agora, sem plástica nem photoshop, continua na ativa, filmando, dirigindo e belo em seus 81 anos.

Leyla Martins Leong

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

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O amor aos animais e a educação dos humanos

Ter um bichinho de estimação deveria ser obrigatório para a educação do ser humano. Quem tem ou teve um sabe muito bem do que estou falando. O coração se refina, a solidariedade aflora e a compreensão e a harmonia entre todos os seres vivos passa a ser um forte traço de caráter.
Eu tive vários que deram um colorido especial à minha infância, tanto gatos quanto cachorros. Quando morei em Letícia, cidade colombiana na fronteira com o Brasil e o Peru, tínhamos sete gatos, que afiavam as unhas nos troncos das árvores do quintal e faziam a sesta no sofá da sala. Aliás um deles, o Picolé, dormia no prato da vitrola onde meu pai ouvia árias de óperas.
Cachorros também tivemos alguns, que acompanharam várias gerações da família. A começar pelo Vampa I ( teve o II), um vira-lata amarelo de pelo curto e rabo enroscado, que acompanhava meu avô em suas andanças pelo centro de Manaus e era o personagem que ele escolheu para fazer piadas sobre seus amigos e desafetos. Sempre era o Vampa que emitia as opiniões mais ferinas, como na história em que o cachorro adoeceu e meu avô disse que ia levá-lo a um médico de má fama muito conhecido em Manaus. O cachorro ajoelhou-se, juntou as patinhas e suplicou: não, ele não, prefiro morrer…
Na casa da Saldanha Marinho chegaram a morar nove pessoas, quatro cachorros, Tiquinho, o macaquinho de cheiro que chorava de saudade quando alguém viajava, e um inexplicável rouxinol do Rio Negro que vivia solto e dormia na mangueira do quintal.
Os cachorros dos amigos também eram nossos amigos, como a cachorrinha Flora, da querida Eldah Bitton, e Tetéia e Gotinha, da prima Fernanda, cujos aniversários eram comemorados comme Il faut, com bolo, velinhas, guaraná e vatapá, com direito a fotos que ainda temos nos álbuns da família.
De volta a Manaus, no final da década de 1950, trouxemos o Zippo, um dachshund preto que causou sensação, pois até aquele momento era o primeiro e único daquela raça na cidade. Zippinho morreu de velhice deixando vasta prole, resultado dos seus romances com as vira-latas nativas.
Manaus era uma cidade pequena. Cachorros circulavam e dormiam tranquilamente nas ruas. Eram poucos, conhecidos e alimentados pelas vizinhanças. Havia um certo respeito e solidariedade para com aqueles bichos de destino tão triste. Ninguém os maltratava.
Infelizmente hoje a cidade está cheia de cães e gatos ( alguns de raça), abandonados nas ruas pelos seus donos para que morram e sumam das suas vidas. Essa atitude cruel está se tornando um problema urbano, minimizado por um pequeno grupo de pessoas que assume esses animais e os oferece para adoção.
Minhas homenagens a Amélia, Irinéia, Betsy, Érica, Necy, Carol, Luciana, Nídia, Marieny, Denise, Elaíze, Francis e outras, assim como as Associações que lutam pelos direitos dos animais a uma vida digna.
Para sensibilizar o seu coração, vale a pena ler “ Flush – Memórias de um cão ” da fantástica Virginia Woolf, que interpreta a vida pelo olhar do cocker spaniel de sua amiga poeta Elizabeth Barrett.
Leyla Martins Leong