quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A GRAÇA DA VIDA ESTÁ NAS PEQUENAS COISAS


Para minha amiga Neide Gondim


O carinho começou de véspera, dentro de um prosaico super mercado onde ela escolheu com cuidado, sem pressa, o melhor feijão, os maços de couve mais viçosos , os pés de porco, as costelinhas, os chouriços, a carne seca e os outros ingredientes de uma  feijoada .
Com exceção da couve, que é preparada pouco antes do prato ser servido, tudo foi posto de molho à noite, para estar macio no dia seguinte. Enquanto catava os grãos e cortava as carnes pensava nos amigos que iriam sentar-se à sua mesa  para degustar uma comida feita com as suas próprias mãos, com o maior carinho, somente para agradá-los.
Na manhã seguinte bem cedo acendeu o fogo, dando início à cerimônia sagrada de preparar o alimento, cujo aroma não tardou a espalhar-se pela casa  prenunciando delícias.
Mais tarde estendeu sobre a mesa a brancura de uma toalha bordada e engomada, sobre a qual dispôs a louça, sem qualquer receio quanto à possibilidade de manchas indeléveis ou de desfalque da baixela. Gestos de amor são assim: arriscados e generosos.
Quando o prato principal já estava encaminhado, as panelas alegres e fumegantes, foi a vez dos doces. Sem descansar, quebrou e bateu ovos, peneirou e misturou o açúcar, derramou o leite devagarzinho alternando com a manteiga, até que a massa ficasse bem branquinha e o seu braço cansasse.  Esperou o forno esquentar antes de colocar a forma para assar em banho-maria  e ficou por ali, aguardando que o cheirinho do pudim dominasse a casa.
Só então entrou no quarto para tomar banho e se perfumar para receber os amigos. Estava radiante e o coração pulsava leve. Afinal vinha exercitando o amor há pelo menos 24 horas.
A cada abraço, o cansaço do trabalho braçal da cozinha foi se apagando como por milagre, até desaparecer por completo no frescor das conversas.
Quem recebe amigos com generosidade, seja ela de qualquer dimensão, em mesas ricas ou pobres  alimenta não só o corpo mas algo mais sutil, misterioso e intangível. Quem assim o faz celebra a amizade e agradece ao destino que escolheu pessoas tão queridas para lhe fazer companhia nos caminhos da vida. Quem recebe se entrega e escancara o seu amor pelos amigos, doa seu tempo, talento e graça para fazê-los felizes por alguns momentos, pelo sabor de uma comida, o toque de uma taça, o riso facilitado por uma bebidinha.
Quem aceita o convite para compartilhar um alimento deve sentir-se privilegiado por ter sido chamado para aquele momento tão especial e ao mesmo tempo tão cotidiano, cuja intenção, aparentemente pequena e trivial é, na verdade,  uma das maiores expressões do amor entre as pessoas.
Ao receber um convite não falte. Se não puder ir avise, justifique a ausência  e agradeça.
Se aceitar, reverencie aquele que abre a porta da casa e do coração para recebê-lo. Agradeça a gentileza e não esqueça nunca de retribuir.

Leyla Martins Leong

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