quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O amor aos animais e a educação dos humanos

Ter um bichinho de estimação deveria ser obrigatório para a educação do ser humano. Quem tem ou teve um sabe muito bem do que estou falando. O coração se refina, a solidariedade aflora e a compreensão e a harmonia entre todos os seres vivos passa a ser um forte traço de caráter.
Eu tive vários que deram um colorido especial à minha infância, tanto gatos quanto cachorros. Quando morei em Letícia, cidade colombiana na fronteira com o Brasil e o Peru, tínhamos sete gatos, que afiavam as unhas nos troncos das árvores do quintal e faziam a sesta no sofá da sala. Aliás um deles, o Picolé, dormia no prato da vitrola onde meu pai ouvia árias de óperas.
Cachorros também tivemos alguns, que acompanharam várias gerações da família. A começar pelo Vampa I ( teve o II), um vira-lata amarelo de pelo curto e rabo enroscado, que acompanhava meu avô em suas andanças pelo centro de Manaus e era o personagem que ele escolheu para fazer piadas sobre seus amigos e desafetos. Sempre era o Vampa que emitia as opiniões mais ferinas, como na história em que o cachorro adoeceu e meu avô disse que ia levá-lo a um médico de má fama muito conhecido em Manaus. O cachorro ajoelhou-se, juntou as patinhas e suplicou: não, ele não, prefiro morrer…
Na casa da Saldanha Marinho chegaram a morar nove pessoas, quatro cachorros, Tiquinho, o macaquinho de cheiro que chorava de saudade quando alguém viajava, e um inexplicável rouxinol do Rio Negro que vivia solto e dormia na mangueira do quintal.
Os cachorros dos amigos também eram nossos amigos, como a cachorrinha Flora, da querida Eldah Bitton, e Tetéia e Gotinha, da prima Fernanda, cujos aniversários eram comemorados comme Il faut, com bolo, velinhas, guaraná e vatapá, com direito a fotos que ainda temos nos álbuns da família.
De volta a Manaus, no final da década de 1950, trouxemos o Zippo, um dachshund preto que causou sensação, pois até aquele momento era o primeiro e único daquela raça na cidade. Zippinho morreu de velhice deixando vasta prole, resultado dos seus romances com as vira-latas nativas.
Manaus era uma cidade pequena. Cachorros circulavam e dormiam tranquilamente nas ruas. Eram poucos, conhecidos e alimentados pelas vizinhanças. Havia um certo respeito e solidariedade para com aqueles bichos de destino tão triste. Ninguém os maltratava.
Infelizmente hoje a cidade está cheia de cães e gatos ( alguns de raça), abandonados nas ruas pelos seus donos para que morram e sumam das suas vidas. Essa atitude cruel está se tornando um problema urbano, minimizado por um pequeno grupo de pessoas que assume esses animais e os oferece para adoção.
Minhas homenagens a Amélia, Irinéia, Betsy, Érica, Necy, Carol, Luciana, Nídia, Marieny, Denise, Elaíze, Francis e outras, assim como as Associações que lutam pelos direitos dos animais a uma vida digna.
Para sensibilizar o seu coração, vale a pena ler “ Flush – Memórias de um cão ” da fantástica Virginia Woolf, que interpreta a vida pelo olhar do cocker spaniel de sua amiga poeta Elizabeth Barrett.
Leyla Martins Leong

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