quarta-feira, 13 de junho de 2012

Centro de Manaus é Cemitério da História


Mais um projeto ameaça o arruinado centro histórico de Manaus. Dessa vez o alvo é a avenida Eduardo Ribeiro. Pretende-se criar uma linha de bondes que subam e desçam a avenida, do porto ao Teatro Amazonas. Um passeio pelo  passado com reprodução teatral de um tempo que não volta mais. A obra, que certamente custará milhões de reais, tem como precedente um  outro bonde falso, postado nos arredores do Teatro para servir de pano de fundo às fotos de nativos e turistas. Pousado no chão, o bonde, no entanto, tem o poder de deslocar-se para outros lugares e até chegou a aparecer dentro do palco italiano do Teatro Amazonas. Às vezes volta à Praça ( Largo) de São Sebastião, às vezes, como agora, desaparece sem dar notícias.
A recriação “fake” desse passado tem-se fixado no desgastado “tempo áureo da borracha”, como se a história da cidade começasse e terminasse ali, sem que nada tivesse acontecido antes nem depois. Em vez de fazer da nossa, uma História cenográfica onde tudo soa falso, não seria mais importante, sensato e definitivo restaurar o patrimônio arquitetônico “de verdade” que está a desmoronar na nossa frente na própria avenida Eduardo Ribeiro, assim como na Getúlio Vargas, na Joaquim Nabuco e na área do porto?
O prédio do Ideal Clube , no topo da avenida, por exemplo,  é pura decadência, assim como as casas antigas situadas do outro lado da rua.
Existem pontos da cidade, onde joias da nossa História e da arquitetura de várias épocas se despedaçam ao longo dos anos e dos mandatos de governadores e prefeitos. Um belo exemplo é o cabaré chinelo, que já se pensou em transformar em um teatro, em um centro cultural , em museu e até em biblioteca, mas continua ali, como uma mancha urbana,  exemplo do desrespeito e  da incompetência das autoridades, assustando e pondo em perigo a vida dos cidadãos. Aliás, aquela área, com o conjunto de prédios históricos e a praça transformou-se no cemitério da memória.
Passar pela avenida  Joaquim Nabuco dói na consciência, dá um sentimento de impotência e  uma inevitável sensação de orfandade, de estar vivendo em uma cidade sem mando e sem lei.
Em geral a criação dessas cidades cenográficas que acontece em vários países, está ligada à possível atração do fluxo turístico. No entanto, Manaus é sabidamente uma via de passagem para o que mais interessa ao estrangeiro: a floresta.
Dois lugares de rara beleza, seguramente ótimas atrações para o turismo da cidade estão congelados  no tempo, como os castelos medievais dos contos de fadas. Temos o Mercado Adolpho Lisboa a contar-nos a História da cidade pela sua arquitetura e função, e a Biblioteca Pública Estadual monumento imponente do saber amazonense e do nosso interesse pela leitura. Esses dois prédios estão fechados há muitos anos. Dentro deles escondem-se segredos que não são revelados a nós que somos os seus donos.
Uma cidade que possui esses tesouros reais precisa de cenografia?




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