Adoro as
histórias de Sherlock Holmes contadas por Sir Arthur Conan Doyle. Tanto, que
fiz questão de hospedar-me em um hotelzinho da Baker Street em Londres, para
sentir o clima do lugar onde Sherlock e Dr. Watson viveram entre 1881 e 1904.
Devia ser
umas seis da tarde quando chegamos ao hotel, na realidade uma pequena casa
adaptada para tal função. O ambiente era escuro, iluminado apenas por um abajur
cuja cúpula estava coberta por um xale de seda verde. Um velha nos esperava atrás
de um pequeno balcão. Havíamos feito reserva no aeroporto e ao dizermos o nosso
nome, a mulher abriu um livro empoeirado, tão velho quanto ela, e percorreu a
lista de hóspedes sem pressa, com sua longa unha pintada de vermelho sangue,
criando um certo suspense. Deu-nos a chave do quarto que ficava no terceiro
andar e não tinha banheiro. Uma escada de emergência cortava o janelão onde
estava encostada a cama com um colchão de molas.
A emoção de
estar ali foi maior do que o cansaço da viagem. Custei a dormir. Aquela escada
de incêndio tão próxima da janela sem grades me deixou impressionada. Lá pela
madrugada o sono me venceu. Mas por pouco tempo. Acordei com um grito de
terror. Era um grito abafado como o de alguém que estivesse sendo esganado. O
som vinha das proximidades. Cheguei perto da janela e puxei de uma só vez a
cortina. O grito cessou; a rua estava quieta. Mal amanheceu corri à gerência e perguntei sobre o grito. Ninguém
tinha ouvido nada.
Pois foi
atrás desse suspense, desse clima, que entrei no cinema para ver “Sherlock
Holmes e o Jogo das Sombras”, com Robert Downey Jr. (Sherlock), e Jude Law ( Dr. Watson). Diante da ausência do texto primoroso de Doyle, tentei
conformar-me com as belas imagens do filme. Impossível: o excesso de efeitos
especiais me perturbou a tal ponto que saí do cinema tonta e cheia de dúvidas
quanto ao desenrolar da história.
Esqueci que
o cinema não é mais o mesmo; virou uma outra coisa, muito distante da chamada
Sétima Arte, e muito próxima da tecnologia e do lucro. Admiradora do cinema “de
arte”, ora em extinção, foi preciso levar um choque desses para perceber que o
público que curte esse tipo de filme e alimenta as estrondosas bilheterias, não
entra no cinema para pensar, mas para participar fisicamente do que se passa na
tela. Por isso os espectadores, gritam, comem, bebem, se estremecem com os
vôos, as quedas abissais, as batidas de carros, a música altíssima, e as cenas
a mil por hora.
Entrei no
cinema com a expectativa de ver um filme de suspense cerebral, cheio de jogadas
inteligentes, instigante, que faz o espectador raciocinar, que dá aos atores a
oportunidade de mostrar o seu talento dramático e nos faz voltar para casa
admirando a atuação, a fotografia, o jogo de luzes, o argumento, os diálogos e
tudo mais que faz de um filme uma obra de arte.
Tudo é
válido, mas acho que as distribuidoras deveriam alertar sobre o nível dos
efeitos especiais que os filmes contêm: alto, médio, light ou zero, para ninguém
entrar no lugar errado.
Estou me
programando para ver o filme “ W/E – O Romance do Século ”, sobre a paixão do príncipe Edward, que abdicou do trono da Inglaterra pelo amor
da americana Wallis Simpson. Será que conseguiram incluir efeitos especiais
também nessa história?
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