quarta-feira, 13 de junho de 2012

Efeitos especiais matam a Sétima Arte


Adoro as histórias de Sherlock Holmes contadas por Sir Arthur Conan Doyle. Tanto, que fiz questão de hospedar-me em um hotelzinho da Baker Street em Londres, para sentir o clima do lugar onde Sherlock e Dr. Watson viveram entre 1881 e 1904.
Devia ser umas seis da tarde quando chegamos ao hotel, na realidade uma pequena casa adaptada para tal função. O ambiente era escuro, iluminado apenas por um abajur cuja cúpula estava coberta por um xale de seda verde. Um velha nos esperava atrás de um pequeno balcão. Havíamos feito reserva no aeroporto e ao dizermos o nosso nome, a mulher abriu um livro empoeirado, tão velho quanto ela, e percorreu a lista de hóspedes sem pressa, com sua longa unha pintada de vermelho sangue, criando um certo suspense. Deu-nos a chave do quarto que ficava no terceiro andar e não tinha banheiro. Uma escada de emergência cortava o janelão onde estava encostada a cama com um colchão de molas.

A emoção de estar ali foi maior do que o cansaço da viagem. Custei a dormir. Aquela escada de incêndio tão próxima da janela sem grades me deixou impressionada. Lá pela madrugada o sono me venceu. Mas por pouco tempo. Acordei com um grito de terror. Era um grito abafado como o de alguém que estivesse sendo esganado. O som vinha das proximidades. Cheguei perto da janela e puxei de uma só vez a cortina. O grito cessou; a rua estava quieta. Mal amanheceu corri à  gerência e perguntei sobre o grito. Ninguém tinha ouvido nada.
Pois foi atrás desse suspense, desse clima, que entrei no cinema para ver “Sherlock Holmes e o Jogo das Sombras”, com Robert Downey Jr. (Sherlock), e  Jude Law ( Dr. Watson). Diante da  ausência do texto primoroso de Doyle, tentei conformar-me com as belas imagens do filme. Impossível: o excesso de efeitos especiais me perturbou a tal ponto que saí do cinema tonta e cheia de dúvidas quanto ao desenrolar da história.
Esqueci que o cinema não é mais o mesmo; virou uma outra coisa, muito distante da chamada Sétima Arte, e muito próxima da tecnologia e do lucro. Admiradora do cinema “de arte”, ora em extinção, foi preciso levar um choque desses para perceber que o público que curte esse tipo de filme e alimenta as estrondosas bilheterias, não entra no cinema para pensar, mas para participar fisicamente do que se passa na tela. Por isso os espectadores, gritam, comem, bebem, se estremecem com os vôos, as quedas abissais, as batidas de carros, a música altíssima, e as cenas a mil por hora.
Entrei no cinema com a expectativa de ver um filme de suspense cerebral, cheio de jogadas inteligentes, instigante, que faz o espectador raciocinar, que dá aos atores a oportunidade de mostrar o seu talento dramático e nos faz voltar para casa admirando a atuação, a fotografia, o jogo de luzes, o argumento, os diálogos e tudo mais que faz de um filme uma obra de arte.
Tudo é válido, mas acho que as distribuidoras deveriam alertar sobre o nível dos efeitos especiais que os filmes contêm: alto, médio, light ou zero, para ninguém entrar no lugar errado.
Estou me programando para ver o filme “ W/E – O Romance do Século ”,  sobre a paixão do príncipe Edward,  que abdicou do trono da Inglaterra pelo amor da americana Wallis Simpson. Será que conseguiram incluir efeitos especiais também nessa história?



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